A Teologia Arminiana - II

18/08/2012 06:31

 

Por mais original que alguém nos pareça, descobrimos, ao analisarmos suas idéias que elas refletem um conjunto de fatores e circunstâncias. Nunca brotam simplesmente da razão. Algo lhes estimulou o aparecimento. Isto para nada dizer do muito que se recebe por herança, direta ou indiretamente. Foi assim com os grandes pensadores, filósofos, moralistas, sociólogos, políticos, etc. E Armínio se inclui nessa regra.

 

As dificuldades gerais que os Países-Baixos enfrentaram durante algumas décadas do século XVI, calaram fundo em sua vida econômica, política, social, intelectual e religiosa. A guerra da independência, contra o domínio espanhol, intolerante, fanático, produziu verdadeira transformação entre os neerlandeses. De um lado desenvolveu-se o apego à liberdade, tanto civil como religiosa e do outro, fomentou a atividade comercial e intelectual. Aliás, segundo frisamos anteriormente, os germes de tudo isso já vinham de tempos passados.

 

Era natural que, em terreno como esse, desabrochasse também o espírito de tolerância. E de fato, vem os estadistas do porte de João Oldenbornveldt advogarem a absoluta liberdade de consciência para todos, fossem protestantes, romanistas, ou socinianos. Hugo Grotius pensava de igual modo. Coube, porém ao cidadão Dirk Koornhert atear as chispas da controvérsia que durante anos agitaria a Igreja Reformada dos Países-Baixos, influenciado, certamente, pela obra anticalvinista de Sebastião Castellio, publicada em 1578, a qual vinha exercendo considerável influência a favor da liberdade de pensamento.

 

Desde 1544 esse teólogo vinha atacando implacavelmente as idéias de Calvino, na Suíça. No conceito de Koornhert, todas as formas de religião deviam ser toleradas, mas, ao externar seu ponto de vista, feriu uma das doutrinas fundamentais do calvinismo, único sistema que o Estado favorecia.

 

Logo a seguir, em 1602, dois ministros de Delft aderiram ao seu modo de pensar, combatendo a doutrina da predestinação ensinada por Beza. Este mestre eminente, conforme dissemos, tinha ido mais longe do que o próprio Calvino, de sorte a descontentar alguns de sua confissão. Não se conformavam eles com que Deus decretasse, só por si mesmo, a queda do homem antes ainda de o haver criado. Isso fazia de Deus, como dizia João Kolman, um tirano e executor.

 

Havia, pois, nos Países-Baixos, uma corrente de moderados e tolerantes, a qual se filiavam negociantes, magistrados, teólogos e ministros evangélicos. Gaspar Kolhares, herói de Leiden, e Rudolph Snelius, patrono de Armínio, eram destes. Em meio da refrega, escreveu o teólogo Guillaume, professor em Leiden, um tratado no qual afirmava que, em matéria de religião, não deve haver constrangimento. Aí está, por conseguinte, uma síntese do espírito da época.

 

Armínio vivia nessa Holanda do século XVI, hospitaleira, liberal, de vistas largas, amante da liberdade, ciosa dos direitos de seus cidadãos, agitada, no entanto, pela força das armas e pela ação das idéias. Homem culto, sincero e de espírito elevado, não tardaria a esbarrar com o dogmatismo de sua Igreja.

 

A teologia eclesiástica tendia cada vez mais a sobrepor-se à teologia bíblica, em prejuízo da própria Escritura. Discordar das doutrinas já estabelecidas, importava em ato de quase heresia.

 

Duas delas constituíam como que verdadeiros dogmas: a da eleição incondicional (ou, supralapsarianismo) e a da graça irresistível. Sendo aquela atacada pelos ministros de Delft, ninguém estaria em melhores condições para defendê-la que o piedoso e culto Armínio. Este aceitou o convite, mas, à medida que estudava e discutia o problema, tanto mais se encaminhava noutra direção. Em resultado de tudo, acabou por ser considerado “o fundador da escola anticalvinista na Teologia Reformada.”

 

Do supralapsarianismo passou ao infralapsarianismo, que ainda é calvinismo, porém mais suave. Teve, então, que defender-se, escrevendo diversas obras, onde espelhava o seu pensamento, as quais chegaram às nossas mãos como preciosas relíquias. Três dentre elas se destacam, todas de 1608, e são: “Carta a Hipolytus a Collibus,” “Uma Declaração de Sentimentos” e “Apologia.”

 

Em 1629 um dos filhos publicou as suas obras completas, tendo James Nichols traduzido-as do Latim para o Inglês, em 1853. Por elas podemos hoje avaliar as concepções religiosas de Armínio.

 

Vejamos, então, sem mais delongas, os respectivos pontos fundamentais.

 

1. A RESPEITO DE DEUS.

 

O calvinismo dava ênfase à doutrina da soberania de Deus, fazendo tudo depender de Sua excelsa vontade e de Sua onipotência. Por Sua vontade criou todas as coisas para um fim determinado, realizando-as através de Seu poder absoluto. Age, por conseguinte, como Lhe apraz e só Ele conhece seus desígnios. Se a uns predestinou para a salvação e a outros negou tal privilégio, é porque julgou ser isto justo.

 

Armínio sustentava a soberania de Deus sem cair em rigorismo. Mas não concordava com que Ele determinasse os atos dos seres livres, e nem ainda que fosse inacessível à capacidade humana, tanto que os criara à Sua imagem e Se lhes revelara de muitos modos, no passado e, afinal, completamente, na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo. A revelação é prova de Sua boa vontade para com os homens e da capacidade receptiva deles.

 

Uma coisa não pode ser boa porque Deus não quer que seja boa. É impossível ser assim, porque a justiça de Deus não permite. A predestinação, em vista disso, não pode ser ato de Deus, nem se exalta ao Criador, rebaixando-Lhe a própria criação.

 

2. QUANTO À PREDESTINAÇÃO.

 

Como dissemos, foi o pomo da discórdia.

 

Teodoro Beza, sucessor de Calvino, Gomarus e outros sustentavam o calvinismo extremado. Para eles, Deus manifestara a Sua glória por um decreto eterno, segundo o qual tinha, em Sua misericórdia, escolhido determinado número de homens para a salvação, e deixado os restantes ao seu destino, que era a condenação. Segundo Albert Henry Newmam, no seu livro “A Manual of Church History,” Vol. II, pág. 339, são de Gomarus as seguintes expressões: “Deus considerou o homem, no decreto da reprovação, não como caído, mas antes da queda, e o próprio decreto da reprovação precedeu ao da criação.”

 

Aí estava a predestinação incondicional, estabelecida pela vontade e sabedoria de Deus, antes, até, que os mundos e os seres fossem criados.

 

Armínio viu as implicações de tal doutrina. Ao invés de glorificar a Deus, rebaixava-o e empobrecia a obra redentora de Cristo. A Cruz perdia seu valor transcendental e o homem não podia responder, de si mesmo, ao apelo do Salvador: “sim” ou “não.” Pois, segundo essa doutrina, Deus já havia predestinado, por Sua vontade, os que iam salvar-se, e só estes, de fato, se salvariam. A queda e a salvação decorriam por igual do plano divino. Todos os homens cairiam em Adão. Mas aos escolhidos o Criador concederia os meios de salvação e nenhum deles seria capaz de resistir à Sua graça. Crer, perseverar na fé e ser salvo seriam coisas para eles inevitáveis. Os demais ficariam à margem desse privilégio. Deus se tornava arbitrário e injusto. A Deus, portanto, cabia a culpa pela introdução do pecado no mundo e, também, a responsabilidade pela queda do homem.

 

Como conciliar tudo isso com a perfeição moral de Deus? Culpar ao homem por falta que lhe fora determinada, seria injustiça, quando a justiça é um dos fundamentos da glória de Deus. Nem Ele pode, por ato arbitrário de Sua vontade, salvar ao injusto, como não pode condenar ninguém independentemente de sua fé. Deus é sempre coerente consigo mesmo.

 

Armínio, por essa razão, voltou-se para o infralapsarianismo. Ou, melhor, aceitou a predestinação condicional. Deus só predestinou após a queda, levando em consideração, por Sua presciência, a atitude do homem em face da tentação. Logo, a predestinação era conseqüência do ato humano e, de modo algum, o resultado de um decreto preestabelecido por Deus. E, assim, a queda realçava a importância e a responsabilidade da criatura sem deixar com o Criador toda a culpa.

 

3. O HOMEM NO CONCEITO DE ARMÍNIO.

 

O supralapsarianismo glorificava a Deus, anulando o homem: mas, quando Armínio se deteve a examinar melhor o problema, concluiu, com a Escritura, que a exaltação do Criador exigia a liberdade do homem. De Suas divinas mãos saíra um ser racional, feito, espiritualmente, à Sua semelhança, e não um autômato. Dotara-o com a capacidade de escolha e opção; fê-lo responsável pela conseqüência dessa escolha; deu-lhe disposições para conhecer a Deus e gozar a vida eterna. Bênção ou maldição, e recompensa ou castigo são o fruto de suas decisões. Por isso diz a Escritura: “Aquele que quiser,” “aquele que crer,” “faze isto e vive,” e “sê fiel e dar-te-ei a coroa da vida.”

 

Mas, admitida a predestinação absoluta, o livre-arbítrio torna-se impossível, porque a vontade já se acha determinada em seu exercício. Qualquer ordem dada ao homem, nestas condições, é contra-senso.

 

4. O PROBLEMA DO PECADO.

 

Se o homem quisesse, poderia manter-se no estado em que Deus o criara, mesmo em face da tentação. Era livre e tinha capacidade para Lhe obedecer. Todavia, agiu noutra direção, escolhendo, conscientemente, o mal, com o que se tornou pecador e, por isso, é responsável por sua falta. Só assim, realmente, o pecado é possível porque é desobediência voluntária. Daí a posição, claramente agostiniana, de Armínio, nesse sentido, quando fez suas as palavras do Bispo de Hipona: “Pecado é de tal modo um mal voluntário, que não pode ser de forma alguma pecado até que seja voluntário.”

 

Se, porém, a queda estava predeterminada, e forçosamente se cumpriria, o pecado deixa de existir, pois não houve livre escolha. O homem agiu sob o impulso de uma força irresistível, que no caso era a vontade soberana de Deus. Não pecara, de fato, por si mesmo. A culpa recaia sobre Deus.

 

Armínio estava longe de concordar com estas conclusões. Para ele o homem era responsável também pela transgressão, e o pecado, um fato irrelutavelmente real. Porque o homem era livre, pecara e, como pecador, merecia o castigo de sua má escolha. Deus podia chamá-lo a contas. Ninguém Lhe pode imputar suas próprias faltas. Cada um é senhor de seu destino. Aquele que se perde, perde-se por culpa sua.

 

O arminianismo, enaltecendo o valor do homem sem diminuir o caráter de Deus, deu, então, à obra divina um cunho ético de que se ressentia o calvinismo.

 

5. O DECRETO ETERNO DE DEUS.

 

Armínio, o ilustre teólogo de Amsterdã, também esposava a idéia de um decreto divino, mas o concebia de maneira muito diversa dos calvinistas. Era um “decreto gracioso.” Por ele Deus resolvera, desde a eternidade, enviar ao mundo Seu Filho na qualidade de Salvador. Todos quantos cressem nEle e aceitassem Sua obra redentora, seriam justificados e salvos, mas quantos permanecessem voluntariamente em seus delitos e pecados, seriam condenados. Sua vontade, por conseguinte, era que todos cressem e fossem salvos. Por Sua culpa ninguém se perderia. Era a promessa do Evangelho.

 

Para Armínio, o homem salvava-se não porque tivesse sido eleito, e sim ao contrário. Por aceitar a Cristo como Salvador é que se tornava eleito. A eleição decorre da identificação do pecador redimido com a obra do Filho eterno de Deus.

 

Deus, em Sua misericórdia, já providenciou tudo que se fazia mister à salvação dos pecadores. E mais: pô-la ao alcance de quantos a quiserem. Resta, somente, a cada um, entrar na arca que Ele preparou. Se o homem quer, Deus o salva. Nem só o homem, e nem Deus só. São os dois cooperando para o mesmo fim. Todavia os arminianos, com exceção dos metodistas, parecem dar precedência à ação humana, com o que tendiam para o pelagianismo. O homem caminha para Deus e Deus vem ao seu encontro.

 

6. A OBRA DE CRISTO.

 

Armínio insistia em que a vida eterna se oferecia a todos os homens mediante a obra expiatória de Jesus Cristo. Ou melhor: a salvação era universal, porque Seu sacrifício fora de extensa amplitude. O Filho de Deus morrera por todos os homens. Seu sangue bastara suficientemente para redimir toda a humanidade. Nele havia suprimento para todos os pecadores. A mais abjeta criatura tinha a sua salvação garantida através do Verbo divino, desde que se voltasse para Ele e O aceitasse de coração. Jesus jamais se recusaria a receber ao pecador arrependido.

 

Já, de igual modo, se não podia afirmar tal quanto à doutrina calvinista. Por ela, Cristo viera salvar aos que Deus de antemão escolhera para isso. Seu sangue beneficiava a esses somente. Aos reprovados o sacrifício não aproveitava. A obra expiatória limitava-se, por conseguinte, a um grupo apenas: os predestinados (para a salvação). Mas, segundo a posição arminiana, a possibilidade da salvação existe para todos e não depende de determinação (escolha) divina. A vontade humana é fator “sine qua non”: Cristo redime aos que O aceitam como Salvador. Isto é: salva aos que queiram ser salvos.

 

Armínio julgava a obra de Cristo, como admitida pelos calvinistas, um ato horrível da parte de Deus. Sim, porque tendo decretado a salvação de alguns, estes de qualquer modo seriam salvos, sem haver necessidade do sacrifício de Seu próprio Filho. Além disso seria prova de maldade, porque, podendo salvar a todos, não o quis. João Wesley, o fundador do Metodismo, diria, séculos depois, que tal atitude fazia a Deus pior que o diabo.

 

7. O LUGAR DA GRAÇA DE DEUS NA SALVAÇÃO DO HOMEM.

 

Ainda que o arminianismo realce o valor humano, não devemos confundir seu ponto de vista com o do pelagianismo, pois ambos se distinguem não só quanto ao conceito do homem, mas, também, quanto ao do pecado e da graça divina.

 

Pelágio ensinava que o pecado de Adão somente afetara a este, nascendo-lhe os filhos e, de igual modo, todos os demais descendentes, com idênticas possibilidades às que ele tivera antes de cair. A sua falta consistia, apenas, em mau exemplo para as gerações seguintes. Ninguém, portanto, nasce pecador, sendo verídico dizer-se que todos trazem consigo o dom da graça, ou seja: os meios inatos para atingir a salvação, caso se faça preciso. Aquele que cair, poderá reerguer-se por si mesmo. Deus já colocou à disposição de cada um os recursos para tanto. Pelágio, porém, concebia esses meios como disposições individuais e influências externas e não como auxílio pessoal de Deus, através do seu Espírito. Por exemplo: a leitura dos Evangelhos, a imitação do procedimento de Nosso Senhor, etc.

 

Armínio aproximava-se mais de Agostinho e, em muitos pontos, era agostiniano, de fato. Não aceitava fosse o pecado de Adão só de conseqüência individual, pois afetara a natureza humana e envolvera toda a raça. Todos caíram em Adão. Agora, só pela graça de Deus pode o homem regenerar-se e obter a salvação. Sem ela tudo é impossível ao pecador. “Sem mim nada podeis,” dissera bem Jesus. Todavia, Armínio discordava tanto de Agostinho como de Calvino, quando negava ter o homem ficado reduzido pelo pecado à inatividade. Houve algo que o homem não perdeu. Ainda lhe resta a capacidade de responder à graça de Deus e aceitá-la ou recusá-la. Noutras palavras: ainda possui liberdade e volição e, assim, é responsável por suas decisões. O homem ainda pode dizer “sim” ou “não” ao seu Criador.

 

Para Armínio a graça de Deus é a ação operante do Espírito divino junto ao homem. É dom gratuito e, como tal, não depende de qualquer mérito do homem. Deus a reparte a todos os Seus filhos. Admitia, contudo, que, excepcionalmente, alguém poderia deixar de recebê-la. Entretanto, nenhuma pessoa é forçada a aceitá-la. A graça celestial pode, sim, ser recusada pelo homem, segundo as seguintes passagens bíblicas: “E estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado” (Hb 12.5), e em Mt 23.37 as significativas expressões do lamento de Cristo sobre Jerusalém:“Jerusalém, Jerusalém! que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” Em Lc 7.30, lê-se: “Mas os fariseus e os intérpretes da lei rejeitaram, quanto a si mesmos, o desígnio de Deus, não tendo sido batizados por ele.” No conceito de Armínio a graça pode também ser resistida, conforme a defesa de Estevão perante o Sinédrio: “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo: assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis” (At 7.51). Igualmente, a graça de Deus pode ser recebida em vão, nos dizeres de Paulo: “E nós, na qualidade de cooperadores com ele, também vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus” (2Co 6.1).

 

Se o pecador concorda em receber o auxílio divino, Deus o coloca em nova condição. Novas perspectivas se descortinarão à sua frente. O caminho da glória eterna se abrirá perante seus olhos. Mas é apenas o caminho. A glória só se encontra no término. Importa, pois, palmilhá-lo até ao fim. O homem tem que se mover e pisar, às vezes, cardos e pedregulhos ferinos. Sobrevir-lhe-ão tristezas e seduções. Porém, sempre que deseje prosseguir, sentirá que não se encontra sozinho: Jesus, o Salvador compassivo, caminha a seu lado e lhe revigora as forças. Jesus nunca desampara aos que se acolherem à Sua sombra amiga. Se quiserem vencer, jamais lhes faltará o auxílio de Deus, através do Seu Filho.

 

E, deste modo, já entramos na doutrina da perseverança cristã.

 

8. A PERSEVERANÇA MISTA.

 

Definamo-la, para melhor a compreendermos. Entende-se, por essa doutrina, que o crente em Jesus, uma vez regenerado, jamais cairá da graça divina, vindo a perder-se de novo. A assistência de Deus é de tal modo eficiente que ele será mantido no caminho e salvo por fim. Nada o arrebatará de Suas mãos. Conforme Jo 10.27-29; Rm 11.29; 2Tm 1.12; 2Tm 4.18 e outras passagens. Era o ponto de vista dos supralapsarianos e o é, ainda, sobretudo, das igrejas reformadas ou calvinistas.

 

É interessante que Agostinho, sendo predestinista, esposou idéia bem contrária, admitindo que até o eleito podia cair e ser condenado. Os arminianos, luteranos, quaquers, metodistas e outros adotam mais ou menos esta última posição. Todos concordam em que a perseverança não depende exclusivamente de Deus. O crente necessita fazer a sua parte, porque a divina o será sempre. E a base se encontra em textos, como Mt 24.12-13: “E por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo.” Em Cl 1.23 está dito: “Se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes, e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro.” Dando conselhos a Timóteo, Paulo diz: “E tu, ó Timóteo, guarda o que te foi confiado, evitando os falatórios inúteis e profanos, e as contradições do saber, como falsamente lhe chamam, pois alguns professando-o, se desviaram da fé.” (1Tm 6.20-21). Outras passagens que se devem examinar, encontram-se em Rm 9.6; 2Tm 2.17-18; 2Tm 4.10; 2Pe 2.1-2; Hb 2.1; Hb 3.14; Hb 6.4 a 6, e vs. 11; 1Jo 2.6, 9 e 19; e Ap 3.1 a 3.

 

Armínio parece ter sido mais consistente que os seus seguidores, visto que eles deram maior ênfase à vontade e aos esforços do homem, com o que tendiam para o pelagianismo. Foram, por conseguinte, ainda mais liberais do que o mestre.

 

Armínio nunca sistematizou suas doutrinas. Expô-las segundo as circunstâncias e só com vistas a determinadas questões e pessoas. Jamais pensou, certamente, em escrever uma obra de Teologia Sistemática, e doutrinas houve, conhecidas agora como arminianas, em que nem sequer pensara. Isso foi obra de seus discípulos, alguns dos quais figuram entre os mais notáveis pensadores dos Países-Baixos, podendo enquadrar-se ao lado dos maiores teólogos da Igreja.

 

É difícil, mesmo, julgar a quem dar a primazia e crédito, se a Simão Episcópio, autor da primeira confissão de fé arminiana, constituída de vinte e cinco capítulos, e, ainda, uma Apologia e uma Institutiones Theologicae, ou se a Philip van Limborch, professor no Ginásio arminiano de Amsterdã e redator da mais completa exposição da doutrina de Armínio, em sua “Theologia Christiana,” ou, ainda, se a Stephen Curcellaeus ou a John Le Clerc.

 

Foram esses os continuadores do inolvidável mestre da Universidade de Leiden e iniciador de um dos movimentos que maior influência têm exercido na vida da humanidade: Jacob Arminius. (Continua)

 

Extraído da web